sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Com as dimensões do universo infantil, o projeto do arquiteto Dominique Coulon cria um ambiente lúdico para alunos de escola primária francesa

Cobertura do playground amplia-se para além da rampa que leva até as áreas esportivas do último piso
No final do percurso, a cobertura do playground amplia-se para além da rampa que leva até as áreas esportivas do último piso
Implantação respeita tatuagens da história
O recém-concluído Grupo Escolar Josephine Baker, desenhado por Dominique Coulon para a cidade de La Courneuve, subúrbio de Paris, faz parte do projeto de revitalização de uma área antes ocupada por conjuntos habitacionais. Em vez de eliminar o passado, o edifício abre-se para um imenso pátio interno, cujo desenho respeita a memória local.
O Grupo Escolar Josephine Baker (cantora e dançarina negra, célebre nos anos 1930) faz parte de um plano urbanístico recentemente adotado pela prefeitura de La Courneuve, no subúrbio de Paris, para revitalizar parte da malha urbana da cidade, que está localizada a cerca de oito quilômetros a nordeste do centro da capital francesa.
Realizado pelo escritório de arquitetura Dominique Coulon & Associés, seu projeto partiu do traçado urbano prévio e propõe a reorganização da vizinhança a partir da preservação de dois eixos históricos regionais.
Um começa na região central de Paris - na fonte de Saint‑Michel - e segue até a catedral da cidade vizinha de St. Denis. O outro vai da mesma igreja até a capela de St. Lucien, no centro de La Courneuve.
Os dois eixos cruzam a área do plano urbanístico do qual faz parte a escola e delimitam um trecho onde o passado se mantém, tanto pela presença das ruínas de um cemitério galo-romano quanto pelo espaço vazio deixado por conjuntos habitacionais da década de 1960, o Ravel e o Presov, demolidos em 2004.
Construção parece dominada por ambientes fechados
Por conta da volumetria assimétrica, a construção parece dominada por ambientes fechados
Na entrada, a volumetria se projeta para dentro, em um movimento de acolhimento
Na entrada, a volumetria se projeta para dentro, em um movimento de acolhimento
Grupo Escolar Josephine Baker localiza-se em La Courneuve, subúrbio de Paris
Parte de um plano urbanístico, o Grupo Escolar Josephine Baker localiza-se em La Courneuve, subúrbio de Paris
Como se o território tivesse sido marcado com uma tatuagem, o projeto do grupo escolar procura respeitar a memória desses eixos, ocupando ao máximo o lote de planta trapezoidal e integrando-o ao entorno dominado pelas ruínas, além de preservar o traçado correspondente aos edifícios residenciais que não existem mais.
Integrado às intenções de revitalização, preserva a cicatriz urbana, em vez de ignorá-la, o que definiria um processo irreversível de perda da memória da cidade.
A única exigência do programa apresentado pelo órgão regulador da educação pública local foi que se evitassem blocos fechados.
Por isso - e por conta dos limites de densidade e altura impostos pelas leis do município -, o arquiteto criou um partido com volumes tensionados, que questiona a separação entre escola primária e creche.
“Edifícios escolares parecem ser concebidos como áreas para adultos reduzidas à escala das crianças. Neste projeto, as sequências de caminhos e salas de aulas propõem uma relação diferente entre o corpo da criança e o espaço”, explica Dominique Coulon, autor do projeto.
A proposta, portanto, estabelece uma organização unificada, implantada a partir de dois polos ligados por um sistema de rampas.
Os corredores recebem luz natural de claraboias e se expandem na frente das salas de aulas
Os corredores recebem luz natural de claraboias e se expandem na frente das salas de aulas
O acabamento conta com materiais como linóleo nos pisos e madeira nas portas e janelas
O acabamento conta com materiais como linóleo nos pisos e madeira nas portas e janelas
As salas de aulas destinadas às crianças que frequentam a creche concentram- se no lado leste do terreno, em um pavimento que está em balanço sobre a entrada, enquanto as classes da escola primária ocupam o setor oeste, com vista para os jardins centrais.
O playground das crianças mais velhas funde-se com a área reservada para as mais novas, ao lado de onde está a cantina. Já os setores esportivos ocupam a cobertura do bloco principal, que contém a biblioteca.
Por conta dos chanfros e da volumetria assimétrica, a construção parece ser dominada por ambientes fechados, com poucas aberturas. No entanto, todas as salas de aulas, sobrepostas ao terreno, abrem-se para jardins centrais.
Corredores recebem luz natural de claraboias
Os corredores recebem luz natural de claraboias e se expandem na frente das salas de aulas
Eixos imaginários, correspondentes aos edifícios habitacionais, foram preservados
Eixos imaginários, correspondentes aos edifícios habitacionais, foram preservados
Dessa forma, tem-se a impressão de que, pelo exterior, a verticalidade predomina. Mas é o aspecto horizontal que fica mais evidente para quem cruza a entrada do grupo escolar.
“É como se o universo infinito se abrisse para dentro de uma área exclusiva e acolhedora, reservada para as crianças”, avalia o arquiteto.
O interior também propõe surpresas. Na entrada, por exemplo, a volumetria se projeta para dentro, em um movimento de acolhimento.
O espaço tem, ainda, parte do piso feito em vidro, o que serve como elemento de comunicação visual transitório para o momento do dia em que as crianças são separadas de seus pais.
Como zonas de descompressão, os corredores mudam de altura e de largura, e expandem-se na frente das portas das salas de aulas, além de receber luz natural de claraboias.
Finalmente, quando o percurso se encerra, a cobertura do playground amplia-se para além da rampa que leva até as áreas esportivas do último piso. Esse jogo volumétrico, somado ao uso de materiais como linóleo nos pisos e madeira nas portas e janelas, suaviza a robustez do concreto aparente, contraste acentuado pelo laranja que colore o chão e algumas paredes e tetos.
“É um lugar de iniciação, onde os alunos são separados do mundo adulto e podem, finalmente, adotar a distância e o tempo necessários para mergulhar em seu universo”, conclui Coulon.
Para quem cruza a entrada do grupo escolar, o aspecto horizontal fica mais evidente
Para quem cruza a entrada do grupo escolar, o aspecto horizontal fica mais evidente
Com vista para os jardins centrais, as classes da escola primária ocupam o setor oeste
Com vista para os jardins centrais, as classes da escola primária ocupam o setor oeste
As salas de aulas da creche concentram-se no lado leste do terreno, em um pavimento em balanço sobre a entrada
As salas de aulas da creche concentram-se no lado leste do terreno, em um pavimento em balanço sobre a entrada
Sombra = memória = espaço não edificado
Sombra = memória = espaço não edificado
Luz natural + influência urbana
Luz natural + influência urbana


Fonte: Arco Web

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