sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Concreto, Luz e água: Veja aqui três museus projetados por Tadao Ando e inaugurados recentemente


Concreto, luz e água
Os projetos de museus de Tadao Ando publicados nesta edição foram inaugurados recentemente, em 2010, embora, em média, ultrapassem 15 anos ao longo da concepção e implantação. O Centro de Artes Chateau La Coste, em Aix-en-Provence, na França, e o Museu Lee Ufan, na ilha de Naoshima, próximo de Osaka, onde Ando nasceu e mantém escritório desde 1969, são parte de um conjunto de edificações, enquanto o alemão Museu da Escultura de Pedra é obra isolada.
Durante os dois dias em que esteve na Itália, em abril, Tadao Ando inaugurou uma exposição de seus projetos recentes de museus e lançou duas peças de design - uma cadeira e uma luminária - em Milão, além de ministrar aula magna na Universidade de Bolonha, onde abordou o tema responsabilidade da arquitetura. Foi um exemplo da agenda rotineira do arquiteto japonês, que costuma inserir conversas com estudantes nas cada vez mais frequentes viagens, já que 80% de seus trabalhos estão sendo desenvolvidos fora do Japão.

Acompanhamos a intensa jornada do arquiteto japonês numa quinta-feira fria e chuvosa na cidade de Milão, quando ele nos relatou que - antigo boxeador - é na atividade física diária e no trato com pessoas de ideia que encontra energia para enfrentar o cansativo cotidiano. Admirador de Oscar Niemeyer, Tadao Ando tem planos para trazer exposição sobre seus projetos ao Brasil, numa viagem que seria para ele um desafio.

Da ínfima parcela de encomendas que aceita anualmente, entre as cerca de cem que recebe, o centralizador arquiteto agraciado com o Pritzker de 1995 comanda, desde a sala aberta e central no prédio de cinco andares em Osaka, um a um dos elementos do fluxo cotidiano de trabalho do seu escritório. O que inclui projetos editoriais e também exposições como a que apresentou na galeria subterrânea da loja Duvetica - o mais recente projeto de Tadao Ando na Europa, inaugurado em 2011 -, sobre seus museus inaugurados nesta segunda metade da primeira década do século 21. Arquiteturas da nova era, embora marcadas pela transcendência atemporal do sagrado e do belo na obra de Ando.
Centro de Artes Chateau La Coste
Aix-en-Provence, França - 1998/2011
Vista da galeria do Centro de Artes Chateau La Coste, na França, na perspectiva do lago
Vista da galeria do Centro de Artes Chateau La Coste, na França, na perspectiva do lago
Emersão do pavilhão francês
Espécie de Inhotim francês, este centro de artes faz parte das atrações arquitetônicas e artísticas da Vinícola Chateau La Coste, propriedade do investidor irlandês Paddy Mckillen localizada no sul da França. Além desta obra, da capela e do master plan desenvolvidos por Tadao Ando, o complexo conta ainda com edificações de Frank Gehry (teatro aberto) e Jean Nouvel (vinícola). Norman Foster e Renzo Piano deverão também imprimir sua marca no conjunto de La Coste.
Além do centro de artes, Tadao Ando concebeu para o Chateau La Coste outras duas edificações - uma capela e um pavilhão para abrigar uma mostra permanente sobre o meio ambiente - e, antes disso, o master plan que orientou a transformação da vinícola oitocentista em parque privativo, onde se exibem obras de arte.
Algumas delas estão localizadas ao ar livre, como a escultura de Louise Bourgeois que ornamenta o lago que Ando fez surgir em frente à sua galeria e a obra criada pelo brasileiro Tunga.
Uma espécie de Inhotim da Provença, a promoção da arquitetura estrelada é levada a sério no Chateau La Coste. Ele conta ainda com edificações desenhadas por Jean Nouvel (vinícola) e Frank Gehry (teatro aberto) - interlocutores de Ando nos anos 1980, conforme assinalado pelo japonês na entrevista publicada nesta edição -, mas deverá hospedar ainda, em seus 190 hectares, projetos de Norman Foster, Renzo Piano e Sou Fujimoto.
A galeria de acesso e a de exposições se ligam em ângulo oblíquo
A galeria de acesso e a de exposições se ligam em ângulo oblíquo
Louise Bourgeois e Alexander Calder (obra na foto) são os autores das esculturas que envolvem a edificação
Louise Bourgeois e Alexander Calder (obra na foto) são os autores das esculturas que envolvem a edificação
O centro se desenvolve linearmente através de galeria envidraçada
O centro se desenvolve linearmente através de galeria envidraçada
Na Bienal de Veneza de 2010 a mostra de Junya Ishigame, vencedora do Leão de Ouro de melhor projeto da exposição central, traçava as arestas de uma hipotética edificação para La Coste.
O centro de artes desenhado por Tadao Ando articula as demais arquiteturas existentes. Sua edificação flutua sobre o lago, ora cortando ortogonalmente, no corredor comprido de circulação dos visitantes, a superfície de água que totaliza 4 mil metros quadrados de área, ora posicionada paralelamente à margem.
Planta
Planta
1. Jean Nouvel (vinícola) / 2. Renzo Piano / 3. Norman Foster
4. Tatsuo Miyajima / 5. Jean Prouve / 6. Centro de Arte, Tadao Ando 7. Louise Borgeoise / 8. Alexander Calder / 9. Frank Gehry (teatro) 10. Pavilhão Meio Ambiente, Tadao Ando / 11. Sean Scully / 12. Richard Serra 13. James Turrel / 14. Tunga
15. Capela, Tadao Ando
O brilho da água nas faces envidraçadas da galeria e a modulação dos delgados pilares de concreto são elementos que conferem transcendência e escala à amplitude do lago, destacando a arquitetura de Ando.
Implantação - Centro de Artes Chateau La Coste
Implantação - Centro de Artes Chateau La Coste
Elevação leste
Elevação leste

Museu da Escultura de Pedra
Bad Münster am Stein-Ebernburg, Alemanha - 1996/2010
Muros de concreto, que acompanham o perfil do lote, cercam as salas expositivas do museu alemão
Muros de concreto, que acompanham o perfil do lote, cercam as salas expositivas do museu alemão
Resgate da madeira na Alemanha
Iniciado em 1996, o projeto deste museu foi interrompido em 2007 em decorrência do falecimento do cliente, o escultor alemão Wolfgang Kubach, e retomado por iniciativa da viúva, a também artista plástica Anna Maria Kubach-Wilmsen. Ao todo, foram 13 anos de projeto e dois e meio de construção para inserir a edificação de concreto que serve de base para a cobertura de madeira de antigo celeiro, remanejado por Ando no lote, em região de suaves montanhas do centro-oeste alemão.
Desenhado para o casal de artistas Anna Maria Kubach-Wilmsen e Wolfgang Kubach (que faleceu quando o projeto tinha passado por seu primeiro grande teste e reduzido a área para se adequar à verba disponível), o pequeno museu de escultura na Alemanha - são 158 metros quadrados de área construída - está inserido em região de suaves colinas.
Ando colocou em estreito diálogo sua arquitetura de concreto e luz natural - registrada no movimento diário dos reflexos do Sol por contínuas superfícies homogêneas - e a tipologia tradicional da região, feita de madeira, com telhado em águas de acentuada inclinação.
O pé-direito duplo da sala de exposições é valorizado pela luminosidade natural, incidente através da cobertura
O pé-direito duplo da sala de exposições é valorizado pela luminosidade natural, incidente através da cobertura
 
A estrutura que recobria um antigo celeiro existente na propriedade foi remontada sobre as paredes cegas desenhadas por Ando, o que resultou em conjunto plástico eloquente, sobretudo em virtude do contraste de escala e opacidade/ transparência.
O volume envidraçado do telhado, assim, parece prestes a se despregar do embasamento de concreto, situação enfatizada ainda pelo reflexo da edificação no espelho d’água frontal.
Ele faz o concreto parecer mais frágil do que a cobertura que sustenta. Um dos grandes méritos do projeto foi ter dado transparência à cobertura de madeira, ampliando seu tamanho aparente.
Recuperado de antiga edificação de madeira, o telhado do Museu da Escultura de Pedra, na Alemanha, parece prestes a desprender-se do embasamento de concreto
Recuperado de antiga edificação de madeira, o telhado do Museu da Escultura de Pedra, na Alemanha, parece prestes a desprender-se do embasamento de concreto
Implantação - Museu da Escultura de Pedra
Implantação - Museu da Escultura de Pedra
Elevação oeste
Elevação oeste

Museu Lee Ufan
Kagawa, Japão 2007/2010
Um pátio aberto e triangular serve de antecâmara do Museu Lee Ufan, localizado na ilha de Naoshima, no Japão
Um pátio aberto e triangular serve de antecâmara do Museu Lee Ufan, localizado na ilha de Naoshima, no Japão
Arquitetura e arte no Japão
O mais recente projeto inaugurado na ilha de artes que Tadao Ando começou a implantar em 1992 em Naoshima, no distrito de Kagawa, próximo de Osaka, o Museu Lee Ufan é parte da trilogia arquitetônica que inclui Benesse House (museu de arte contemporânea e hospedaria, de 1992) e Museu de Arte Cichu, de 2004. O vínculo direto com a natureza - água e vegetação - é a marca dos projetos de Ando na ilha.
O Museu Lee Ufan, nome do artista plástico coreano para quem Tadao Ando construiu salas expositivas sob medida para determinadas obras selecionadas, coroa o projeto maior do arquiteto: o master plan da ilha cultural de Naoshima, próxima de Tóquio e Osaka, iniciado em 1988.
É a mais recente obra de Ando implantada na ilha, entre o misto de hospedaria e centro de arte Benesse House, de 1992, e o Museu de Arte Chichu, de 2004, ambos concebidos por ele, fincados em região de suave encosta. O partido permite a imersão do edifício na paisagem natural envolvente, assim como a dissolução aparente da arquitetura, pouco percebida como objeto coeso.
Os espaços expositivos se desenvolvem em três ambientes retangulares, acessíveis sequencialmente a partir do pátio de entrada triangular - “que enquadra o céu”, assinala o arquiteto -, conectado, por sua vez, a extenso corredor com paredes paralelas de concreto que encaminha os visitantes para o museu.
Uma espécie de labirinto de concreto enquadra o céu
Uma espécie de labirinto de concreto enquadra o céu
Somente tais superfícies longitudinais configuram a fachada visível da edificação. A estreita relação da arquitetura com as obras de arte foi obtida com a participação de Lee Ufan no projeto.
Pátio aberto serve de antecâmara do Museu Lee Ufan
Pátio aberto serve de antecâmara do Museu Lee Ufan
Implantação - Museu Lee Ufan
Implantação - Museu Lee Ufan
Elevação sul
Elevação sul

Dez museus de Tadao Ando
Vista geral da exposição de museus de Tadao Ando, que esteve em cartaz em Milão, em abril, durante o Salão Internacional do Móvel
Vista geral da exposição de museus de Tadao Ando, que esteve em cartaz em Milão, em abril, durante o Salão Internacional do Móvel
A exposição de museus de Tadao Ando esteve em cartaz em Milão na semana do salão de design e, concebida pelo próprio arquiteto, retratou, além dos projetos apresentados nesta edição, os museus Punta Della Dogana (2009) e Palazzo Grassi/ Teatrino (2006), ambos em Veneza, e o Museu Marítimo de Abu Dhabi, ainda em fase de projeto.
Eles representam o exercício da arquitetura sagrada de Ando, em que prevalecem o distanciamento em relação ao mundo exterior e a especial conexão com a natureza.
Formas geométricas e superfícies contínuas, para a livre movimentação da luz natural, são os elementos centrais destes projetos.


Texto de Evelise Grunow
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 388 Junho de 2012
Imagens da loja Duvetica de Milão, projeto de Tadao Ando, onde foi instalada sua exposição de museus
Imagens da loja Duvetica de Milão, projeto de Tadao Ando, onde foi instalada sua exposição de museus
Imagens da loja Duvetica de Milão, projeto de Tadao Ando, onde foi instalada sua exposição de museus


Fonte: Arco Web

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